A VIOLAÇÃO NO CIBERESPAÇO: A MISOGINIA E O RACISMO REAL E VIRTUAL
Resumen
Este artigo propõe uma reflexão acerca das sustentações de comportamentos racistas e misóginos
nos discursos publicados no ciberespaço, uma vez que percebido este como lugar de proteção e
refúgio a seus usuários. Estes, blindados pela distância e pelo anonimato, parecem exercer uma
liberdade infantil e inconsequente em seus atos, fruto das ânsias e descrenças que delineiam o
comportamento contemporâneo. Através do método exploratório documental, esta investigação
remete ao tratamento de comentários publicados na internet em torno de uma reportagem acerca de
um caso midiatizado da violação coletiva de uma jovem de uma comunidade da cidade do Rio de
Janeiro, ocorrido no ano de 2016. Como parâmetro de comparação recorre, também através da
análise do discurso, à reportagens que tratam do episódio ocorrido durante a Copa do Mundo de
2018, onde uma jovem russa fora exposta ao mundo através de um vídeo publicado em redes sócias
por torcedores brasileiros que, através de brincadeiras de cunho machista, zombavam de seu gênero
se aproveitando de seu desconhecimento da língua portuguesa. Para traçar uma linha comum entre
os dois episódios: a violação carnal e violação verbal, ambas midiatizadas, procura-se situar, através
de autores que tratam o momento contemporâneo, como são entendidas as relações de poder dos
seres humanos no ciberespaço e como o preconceito de cor e de gênero se instalam neste palco
sem limites. Conclui-se que os posicionamentos da imprensa e do público são influenciados pela
condição idealizada das vítimas: uma jovem negra e pobre de uma comunidade carioca em
contraponto a uma jovem branca, loira e sorridente de um país distante. O enfrentamento involuntário
entre estas duas mulheres expõe o racismo e a misoginia que se esconde no discurso, ainda
socialmente aceito, e que procura perpetuar as relações de poder sustentadas no machismo
capitalista e branco.